Entrevista Ana Estela Pinto: ‘as chances são de quem tem boas pautas e sabe contar histórias’

No bate-papo virtual realizado no Nós da Comunicação, Ana Estela Pinto, editora de Treinamento da Folha de S. Paulo, conversou sobre o mercado de jornalismo, políticas de recrutamento dos veículos de comunicação e o que é necessário para ter sucesso e satisfação nessa carreira, ao mesmo tempo tão competitiva e apaixonante. Ela lançou este ano, em parceria com a repórter Cristina Moreno de Castro, o livro ‘A vaga é sua – Como se preparar para trabalhar em jornalismo’ (Editora PubliFolha), um verdadeiro guia para quem quer entrar e sobreviver em uma redação.

Para Ana Estela, os veículos de comunicação carecem de bons profissionais apesar do grande número de recém-formados em busca de um emprego. “Todos têm dificuldade de achar jornalistas realmente bem preparados, que leiam jornal, que saibam escrever”, aponta a jornalista, que já atuou como repórter, redatora, editora e secretária-assistente de Redação.

Durante o chat, ela ressaltou a importância de ter iniciativa quando o assunto é conseguir uma vaga: “É preciso fazer contato com os editores e mostrar seu trabalho. Uma boa forma é oferecer pautas como freelancer”, ensina.

Ao fim da conversa, a leitora Ana Lívia, de Maceió (AL), foi escolhida para ganhar um exemplar de ‘A vaga é sua’, oferecido pela editora Publifolha.

Confira abaixo os destaques do bate-papo virtual:

Marcos: O fato do jornalista, atualmente, precisar desempenhar mil funções, por conta do novo mercado digital, é melhor para ele, para o negócio das empresas, ou para ambos?
ana.estela:
Até há novos cargos em que isso acontece, mas a vida não mudou para todo mundo. O que ocorre é que hoje há novas plataformas, portanto, se a gente souber mais coisas, têm mais campos de trabalho. Mas o sujeito que só gosta de reportagem de polícia em jornal impresso também terá um campo para trabalhar.

Rbala: Você acha que um destes campos é atualizar e interagir em redes sociais?
ana.estela:
Sim, esse é um dos novos campos. Aqui na Folha de S.Paulo, muitos jornalistas estão fazendo isso, não por obrigação, mas porque perceberam que essa é uma boa forma de amplificar seu trabalho.

Rbala: Mas falo em empresas mesmo. Sou estudante, e vejo que algumas empresas pedem estagiários para esta função.
ana.estela:
Sim, é verdade. As assessorias de imprensa, principalmente.

Lina Galvão: O que o jornalista recém-formado e com pouca experiência deve fazer para se inserir no mercado de trabalho?
ana.estela:
Lina, essa é uma pergunta que rende um livro (risos). Precisa tentar mostrar seu trabalho para os editores, ou conseguir um contato com eles, para ter uma primeira chance. Uma boa forma é oferecer pautas como freelancer.

Julianajr: Você acredita que a formação em jornalismo dá ao profissional conhecimentos para atuar em outras áreas? Por exemplo, faço faculdade de jornalismo porque acredito que aprendo muito de muita coisa. Atualmente, quero trabalhar com documentários. Será que estou no caminho certo?
ana.estela:
Sim, o jornalismo pode te ajudar com os docs, mas é legal ter em mente que são linguagens diferentes (adoro docs!) =)

gal_rj: O que a Folha procura num profissional de comunicação? Quais qualidades?
ana.estela:
A Folha não procura um perfil único. Há muitas funções diferentes nos jornais e elas podem ser desempenhadas por pessoas com qualidades muito diferentes. Aliás, isso é que é legal na nossa profissão: tem lugar pra todo tipo de gente.

gal_rj: Entendo, mas me refiro ao repórter que vai pra rua apurar matéria, repórter de hard news.
ana.estela:
Depende também da área. Tem repórter que é mais técnico, outro que é mais fuçador, outro que é mais eclético. Isso de perfil não existe muito. Mas precisa estar bem informado, gostar de notícia.

avillinha: Sou formada em Moda e tranquei a minha faculdade de Jornalismo no segundo ano. O que seria melhor eu fazer para trabalhar com comunicação: terminar minha faculdade de Jornalismo ou fazer uma pós em Jornalismo Cultural (a área que eu gosto)?
ana.estela:
Voltar para faculdade te daria contatos mais diretos no mundo jornalístico. Não sei se a pós em jornalismo cultural te ajudaria muito. Depende muito da pós. Mas acho que o principal é começar a trabalhar.

patiuka: Qual é a verdadeira visão para inclusão de pessoas com necessidades especiais no meio jornalístico?
ana.estela:
Que eu sabia, não há nada formal sobre isso. Aqui na Folha há jornalistas com diferentes tipos de deficiência (principalmente de humor, risos. desculpe a piada, mas não resisti).

Diego Rodrigues: O que é mais importante: a pós-graduação ou o curso de inglês?
ana.estela:
Depende muito dos cursos, mas inglês eu acho fundamental.

Marcos: Você é a favor do curso de jornalismo como ele é hoje ou acha que um formado em filosofia, por exemplo, pode contribuir no trabalho em uma redação?
ana.estela:
Sou contra os cursos de jornalismo como são hoje. Acho que poderiam ser cursos de especialização. Sou contra o diploma obrigatório.

Marcos: Pessoas de outras áreas poderiam ajudar no trabalho como um todo, né?
ana.estela:
Marcos, aqui na Folha tem muita gente de outras áreas. Costuma dar certo, se o cara é maluco o suficiente pra trocar sua área por essa profissão doida. rsrsrs

Gabriela: Entrando naquela discussão sobre a necessidade do diploma, quanto você acha que uma faculdade de jornalismo pesa na hora de conseguir um emprego nessa área?
ana.estela:
Acho que a faculdade pode ajudar porque você já sabe o básico da profissão e porque já tem mais contatos na área.

Camila Vargas: Atualmente o jornalismo está mais livre para se aproximar do formato literário de reportagem?
ana.estela:
Camila, eu não gosto muito dessa moda de jornalismo literário. Acho que as pessoas precisam se preocupar mais com as informações e com a apuração do que com o texto. Um bom texto é sensacional, mas, se não tiver informação boa, não serve pra nada.

natplena: Existe realmente algum tipo de restrição com relação à idade, na hora da contratação? Vou me formar agora, com 37! Penso que já fui preterida algumas vezes pela idade, através de currículo.
ana.estela:
Restrição eu não diria, porém é mais difícil, sim, depois dos 30, se você não tem experiência.

avillinha: Com um diploma de Moda na mão, a faculdade de Jornalismo trancada aqui no Brasil e uma faculdade de Fotografia trancada nos EUA (segundo ano), tenho chances na área (mesmo se não terminar a faculdade de Jornalismo)?
ana.estela:
Tem, sim. Se tiver boas pautas, faro jornalístico e souber recolher informações e contar histórias, certamente tem. Sugiro que tente ir fazendo frilas também.

Pri Castilho: Gostaria de uma dica. Como começar a fazer freelas? O que é mais importante para começar?
gal_rj: Faço minha também essa pergunta da Pri Castilho. Por onde começar a fazer frilas? Como oferecê-lo a um jornal?
ana.estela
: Gal, Pri, Benjamin (ele também fez a mesma pergunta), o jeito para começar a fazer frilas é ter boas pautas e ir oferecendo para os editores. No meu blog, semana passada, eu dei uma dica bem legal de um guia do blog da Juliana Cunha.

Audi Lima: Os jornais hoje não prezam pela formação. A Ana acabou de citar a Juliana Cunha, que não é jornalista, mas atua (muito bem) na área, na Folha inclusive. A tendência é essa nos grandes meios? Para você, o diploma também não é o mais importante?
ana.estela:
Nunca fui a favor do diploma obrigatório. O que não quer dizer que não ache muito importante a boa formação. Mas a boa formação não necessariamente vem da faculdade de jornalismo.

André Burger: Escolher uma boa faculdade, elaborar um currículo, cultivar o networking, participar de estágios, todas são ações importantes e devem ser bem pensadas no preparo profissional. Teria alguma delas que você considere mais importante?
ana.estela:
Não. Porque as seleções são muito subjetivas também, a vida é muito mais complexa para que regrinhas simples deem conta.

Julianajr: E a vivência internacional, ainda é um diferencial incrível ou um luxo necessário?
ana.estela:
Experiência no exterior é, como você disse, um diferencial. Não é essencial, mas é legal, porque dá segurança, maturidade e uma visão mais ampla do mundo.

Benjamin: Você não acha que hoje, no jornalismo policial, os coleguinhas estão cheios de teses e apurando pouco?
ana.estela:
Infelizmente, acho que falta mesmo apuração no jornalismo em geral.

patiuka: Uma pessoa com necessidade especial tem de dar duro três vezes mais para provar que é capaz. E ainda assim não tem o reconhecimento necessário. Independentemente da área, inclusive. Particularmente fiz seis testes vocacionais e deu jornalismo, mas não me formei neste porque sabia que seria muito mais complicado do que em qualquer outra área.
ana.estela:
Certamente é preciso batalhar mais. Mas não é impossível. E todo mundo precisa batalhar pra ter sucesso. Só 0.000003%, aqueles que são muito talentosos ou nasceram ricos, é que não precisam.

Natplena: Minha experiência é praticamente quase toda em assessoria (um ano e meio), mas meu interesse maior é atuar em redação e rádio.
ana.estela:
Se seu objetivo é redação, acho importante ir tentando uns frilas, para ser conhecida.

Rbala: Vale mais ‘frilar’ em vários temas diferentes ou se especializar numa área?
ana.estela
: As duas coisas são possíveis, mas acho que o caminho é mais fácil se a gente escolher uma área.

Ana Krepp: Você já pensou em dar aula?
ana.estela:
Já. Adoraria. É algo que gosto muito de fazer, e que faço aqui na Folha. Mas não sei se teria tempo pra isso hoje. Sem contar que não passei no mestrado da ECA quando prestei e, hoje em dia, sem mestrado, ninguém dá aula em faculdade.

mayara: Pretendo trabalhar com jornalismo cultural. Vale uma pós nessa área?
ana.estela:
Depende da pós. Acho que o fundamental é você entender bem do assunto que quer cobrir. Talvez não precise da pós pra isso. E trabalhar também é importante, ir ganhando experiência e fazendo contatos.

analivia: Concursos públicos. Sei que não é sua área, mas você acha que vale a pena?
ana.estela:
O setor público é hoje o maior empregador de jornalistas. Mas os cargos são de assessoria, quase sempre. Sim, acho que é uma opção de trabalho.

Marcos: Você imagina um dia um jornal como a Folha apenas em versão digital, sem papel?
ana.estela:
Até imagino. Mas eu, pessoalmente, gosto de ler o jornal no papel.

Gabriela: Ainda sobre os frilas, é recomendável mandar CV também, ou as pautas já bastam?
ana.estela:
Mandar o currículo ou um parágrafo de apresentação é importante, para o editor ter ideia de quem você é. Mas a pauta é que vai definir tudo.

Julianajr: Blog serve como portfólio?
ana.estela:
Vai depender da vaga, claro, mas serve, sim. Já vi gente ser escolhida porque tinha um blog legal.

Mika: Estou indo para um estágio de assessoria, mas é para fazer blog corporativo, com cobertura de eventos etc. Você acha que isso contaria como experiência para trabalhar em redação?
ana.estela:
Acho que pode ajudar, mas o ideal é ter contatos nas redações.

Rbala: Você acha que tem alguma área do jornalismo que as pessoas se interessam menos em ir trabalhar e tem mais ‘demanda’ de cobertura, de notícias?
ana.estela:
A melhor área, no meu ponto de vista, é jornalismo econômico. Informação econômica sempre será necessária e valorosa.

Benjamin: Uma pergunta que acho muito pertinente: Qual editoria do jornalismo você acha que é mais fácil para um iniciante começar?
ana.estela:
Vai depender das suas afinidades e dos seus conhecimentos. Jornalismo de serviço costuma ser mais fácil de fazer, porque é mais fácil entender o objetivo das matérias.

Avillinha: Morei nos EUA (Washington, DC) por três anos e, lendo revistas e jornais, percebi que realmente há liberdade de expressão por lá. Um exemplo disso foi o filme ‘W’, lançado em pleno mandato do Bush. Você acha que o Brasil tem esta liberdade de expressão ou está longe disso?
ana.estela:
Até acho que há liberdade de expressão no Brasil, mas vários veículos não são fortes o suficiente para serem independentes. Outra coisa muito diferente é que nos EUA há acesso à informação pública, enquanto no Brasil o governo impede esse acesso.

Ana Krepp: Gosto muito de cultura, mas não penso em trabalhar com isso. Acontece que as empresas sempre me dizem que meu perfil é de cultura e acabam não me chamando para economia, por exemplo. O que eu faço, mudo meu ‘perfil’?
ana.estela:
Sim, acho que você precisa ‘mudar seu perfil’. Talvez, neste caso, um desses cursos de economia para jornalistas ajude.

Ana Krepp: Mas Ana, o pessoal do RH, das contratações, acha que cultura é meu perfil porque eu tenho cara de porra louca, sabe? Como se faz pra mudar esse perfil? Por mais social que eu me vista, sempre dizem o mesmo.
ana.estela:
Isso é bem divertido! Como será essa cara? Que coisa meio preconceituosa, né? Já tentou ir de coque e salto alto? =)

Ana Krepp: As pessoas acham que eu sou descolada, mas não, eu sou careta, quero trabalhar com jornalismo econômico!
ana.estela:
Insista! E domine o assunto o mais que puder.

Pri Castilho: Quais são os principais critérios de seleção para o treinamento da Folha?
ana.estela:
A gente avalia os mais diferentes critérios, e as pessoas escolhidas são muito diferentes umas das outras. A gente olha a formação regular, mas também as afinidades, as experiências de vida e como a pessoa escreve.

Benjamin: A Folha hoje contrataria um funcionário que não seja formado?
ana.estela:
Sim. A Folha tem funcionários não formados. Se o cara é bom, mesmo que ainda esteja estudando, pode ser contratado.

rita_cassiasr: O Jornalismo, assim como a Mídia em geral, é Opinião Pública? E, caso seja, está protegido contra as arbitrariedades do estado?
ana.estela:
Quanto mais independente e forte economicamente for a empresa, mais protegida ela está.

analivia: Qual o maior diferencial que um recém-formado pode ter?
ana.estela:
Difícil falar no ‘maior’ diferencial. Mas acho que ler jornal direito, estar bem informado, muito bem informado, certamente seria um bom diferencial.

Benjamin: Você diria que no mercado, hoje, o jornalista tem que estar preparado para ser um multimídia? Saber lidar com ferramentas na internet como redes sociais, edição de vídeos, áudios etc., tudo para web?
ana.estela:
Acho que é bom conhecer essas outras linguagens, mas há também vagas em que isso não é necessário. O fato é que conhecê-las amplia seu campo de trabalho.

Gabriela: Eu sei que já falou sobre isso, mas ainda no quesito idade, há um ‘limite’ para quem não tem experiência? Qual a idade máxima para ser um recém-formado?
ana.estela
: Difícil traçar uma linha. Depende do veículo, da função, da vaga etc. Diria que, a partir dos 28, já fica mais difícil. Mas nos concursos públicos, por exemplo, não há limite algum.

Pri Castilho: Experiência em outros veículos é fundamental?
ana.estela:
Por experiência em outros veículos você quer dizer outras plataformas? Como rádio, TV? Ou outras empresas de um mesmo meio?

Audi Lima: Gostaria que você desse uma dica para quem não tem experiência e por isso não consegue emprego. Colocar matérias nas redes, em blogs, por exemplo, pode dar resultado? ana.estela: Acho que não ajuda muito, não. O jeito é oferecer pautas como frilas e tentar fazer contatos com os editores.

Julianajr: Você acha importante que um estudante, mesmo que queira trabalhar em jornal, passe por outras áreas como rádio, TV e sites antes de trabalhar numa redação de jornal impresso?
ana.estela:
Não acho fundamental, não. Pode ser uma experiência legal, que enriquece seu conhecimento jornalístico, mas certamente não é indispensável, a não ser que você vá trabalhar num veículo multimídia.

cissaramalho: Ana, você concorda com esses testes de inglês, conhecimentos gerais e raciocínio lógico que as grandes empresas estão aplicando, via internet, em seus processos seletivos? Isso não é muito desgastante para o candidato, além de não provar muito se ele é bom profissional?
ana.estela:
Não conheço os testes, mas acho que, se a empresa se basear só neles, pode não estar escolhendo os melhores candidatos.

cissaramalho: E quanto a cobrar dos candidatos fluência em outros idiomas, o que você acha, Ana? Sei de empresas que pedem fluência em tudo, mas na prática do trabalho nada é usado.
ana.estela:
Acho que saber inglês hoje é muito importante para tudo na vida, não só para o trabalho em Redação. Mesmo que não se use na maior parte do tempo, pode haver uma notícia importante no qual ele seja necessário. Já as outras línguas, vai depender muito da função.

analivia: Qual a área do Jornalismo que mais carece de profissionais?
ana.estela:
Acho que é o jornalismo econômico. Mas, para ser franca, todas as áreas, hoje, encontram dificuldade de achar jornalistas realmente bem preparados, que leiam jornal, que saibam escrever.

avillinha: Você acha que esta ‘onda’ de blogs informais (língua coloquial, despreocupada) tem prejudicado alguns veículos? Pergunto isso porque sei que muitos jovens preferem os blogs porque acham que são mais ‘inteligíveis’.
ana.estela:
Acho que os blogs não prejudicam, não. Se eles não existissem, provavelmente os jovens que os leem porque são mais ‘fáceis’ não leriam os jornais.

rita_cassiasr: Diante de tanta informação, como o jornalista consegue destacar sua matéria ou seu nome no meio? O furo, hoje, ainda é o diferencial?
ana.estela:
O furo é a coisa mais importante para um veículo de comunicação.

Marcos: Nós temos hoje uma proliferação de cursos de pós, MBAs em tudo que é ligado à comunicação digital. Não existe uma overdose de ofertas que acaba por confundir o jornalista que busca se capacitar? Como escolher o melhor caminho com tantas opções?
ana.estela:
Sim, acho que há superoferta de cursos e nem sempre eles são necessários. Como escolher vai depender muito dos seus objetivos, do que você já sabe, de que experiência tem e de quais as opções de curso, ou outras opções de aperfeiçoamento que não necessariamente passam por cursos.

Rbala: Vale a pena destacar, nas entrevistas ou no currículo, as experiências da faculdade, ou o que importa mesmo são as coisas feitas no estágio ou como frila?
ana.estela:
Se você tiver boas experiências na faculdade, nos laboratórios, pode destacar, sim.

cissaramalho: Não sei se já perguntaram isso aqui antes da minha entrada, mas o que é mais avaliado durante um processo seletivo?
ana.estela:
Cada vaga e cada editor terá uma prioridade diferente. São muitas as possíveis qualidades de um jornalista.

Lina Galvão: Atualmente, os veículos oferecem muitas vagas para estagiários, oportunidade que não tive. Você acredita que as empresas visam este espaço como chance para moldar o futuro profissional ou porque é uma estratégia econômica?
ana.estela:
Acho que são as duas coisas.

AmandaS: Existe, ou é lenda, a discriminação com relação ao Nordeste nas redações sulistas? Sou do Ceará, hoje estou estudando inglês nos EUA. Tenho pós-graduação e tudo isso é para trabalhar no Sul/Sudeste do Brasil.
ana.estela:
Não posso falar dos outros lugares, mas te garanto que na Folha não há discriminação alguma. Há muitos jornalistas nordestinos na Folha.

analivia: O sotaque pode prejudicar na hora da contratação?
ana.estela:
Se for para rádio ou TV, talvez. Para jornal, dificilmente. Você já ouviu o sotaque da Cris, que trabalhava aqui comigo? (risos)

Gabriela: A maioria das vagas está mesmo no sudeste? Em São Paulo, principalmente?
ana.estela:
Em redações, certamente a maioria das vagas está aqui. Em assessoria, como os governos contratam muito, elas estão mais espalhadas.

AmandaS: Como vocês tratam a relação com o comercial? No nordeste é impossível separar e isso poda o trabalho do jornalista.
ana.estela:
Felizmente, aqui na Folha a gente simplesmente ignora o departamento comercial!

Rbala: Tanto que a Folha traz anúncios de deputados, senadores.
ana.estela:
Sim, a Folha publica anúncios de qualquer empresa ou contratante, desde que, claro, não haja algo ofensivo ou incorreto neles.

wall_: Beleza e telejornalismo. Qual a sua opinião?
ana.estela:
Todo mundo gosta de ver gente bonita, né? Mas acho que, em jornalismo, competência e credibilidade têm que vir antes!

Gabriela: A possibilidade de migrar de editorias na Redação é grande? Como isso funciona?
ana.estela:
Não diria ‘grande’, mas existe, sim. Por exemplo, o Fabio Seixas, que é um jornalista de esporte há muitos anos, hoje está na editoria de internacional.

leticiags: Onde há mais oferta de emprego na área de comunicação? E qual tem os melhores salários?
ana.estela:
Hoje em dia, há mais oferta nas assessorias que nas redações. E nas redações, os melhores salários estão no jornalismo econômico.

mayara: E os piores salários? No jornalismo cultural? Rsrs
ana.estela:
Acho que os piores estão no noticiário mais geral, na cobertura do factual. Só lembrando que em São Paulo há piso para o salário dos jornalistas. Hoje é R$ 3.000 para sete horas.

rita_cassiasr: É interessante enviar material para diversas mídias para quem está começando?
ana.estela:
Sim. Para começar, vale tudo (profissionalmente, claro, né!? rsrsrs)

AmandaS: Como foi a repercussão dos jornalistas do sudeste com relação ao fechamento do JB? Por que você acha que isso aconteceu?
ana.estela
: Todo mundo lamenta a decadência do JB. Aconteceu porque a empresa não foi bem administrada.

Pri Castilho: E o fotojornalismo? Qual seria uma boa porta de entrada?
ana.estela:
Também é fazendo frilas. Em fotojornalismo há até mais trabalho para frilas que na área de produção de texto.

Analivia: Jornalistas econômicos geralmente têm pós nessa área ou estão nela por experiência mesmo?
ana.estela:
O mais comum é que tenham aberto espaço com a experiência, mas especialização certamente ajuda muito nessa área.

leticiags: Qual o melhor lugar para procurar o primeiro estágio?
ana.estela:
Para o primeiro estágio, o melhor lugar é o primeiro que aparecer! rsrs Desde que, claro, seja em redação e que você vá aprender algo lá.

cissaramalho: Tenho tanto interesse nos cursos de especialização, mas o grande problema é que eles são muito caros, tendo em vista o tempo de duração. Além de a maioria ser em São Paulo e eu estar no Rio de Janeiro.
ana.estela:
Nem sempre a especialização é fundamental. É preciso avaliar bem, porque tempo e dinheiro são recursos muito escassos hoje em dia.

rita_cassiasr: A busca por frilas é maior do que por contratação de alguém fixo?
ana.estela:
As duas coisas acontecem simultaneamente.

Rbala: Faz diferença para trabalhar em Redação ter feito estágio em assessoria?
ana.estela:
Depende um pouco da vaga na Redação e do que seus concorrentes pela vaga já fizeram.

Julianajr: Vocês acham que esses programas de treinamento realmente ajudam o estudante que acabou de sair da faculdade a se adequar aos meios de comunicação mais tradicionais? (Eu acho que sim, mas vejo muita gente criticar.)
ana.estela:
Não tenho dúvida de que ajudam. Se não fosse por um deles, eu não estaria aqui (rsrsrs). Não porque eu seja editora de treinamento hoje, mas porque foi por fazer um deles que eu virei jornalista.  Sugiro olhar o site, que explica tudo bem direitinho.

wania1603: Ana, o que você acha de especializações na área de Novas Mídias? Vale a pena?
ana.estela:
Depende muito da especialização e do que você quer fazer profissionalmente. Ninguém sabe ainda muito bem para onde vão as novas mídias, por isso os cursos tendem a não ser muito ‘ferramentais’.

Analivia: Tenho dúvidas se escolho assessoria ou redação. Você pode citar alguma característica que marque o perfil desses profissionais?
ana.estela:
São carreiras bem diferentes. Levaria muito tempo para explicar. No blog, a gente sempre fala sobre isso. Dá uma procurada lá.

AmandaS: Trabalhar com assessoria é apagar o fogo, como bombeiro. Trabalhar na redação é ser o incendiário.

rita_cassiasr: Por que você escolheu o Jornalismo? #curiosidade
ana.estela:
Eu não escolhi! Estava perdida e o jornalismo apareceu na minha frente. =) Eu era formada em agronomia e não sabia o que faria da vida. Aí a Folha abriu o programa de treinamento. Resolvi arriscar e acabou dando certo.

Analivia: E pra quem mora longe dos grandes centros e não tem chance de fazer esses programas de treinamento, que dica você dá?
ana.estela:
Venha para os grandes centros. Faça uma boa poupança e, num certo momento, arrisque a sorte.

Publicado em: http://www.nosdacomunicacao.com.br/panorama_interna.asp?panorama=358&tipo=E

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